Reflexão sobre o episódio do ônibus 174
AUTORES:
ACADÊMICO DE DIREITO CARLOS EPIFÂNIO
ACADÊMICO DE DIREITO JANUÍ REIS
O seqüestro do ônibus 174 nos coloca a refletir sobre quantos Sandros produzimos e escondemos da nossa face, quantas crianças esse Brasil afora quebra o vínculo familiar, a base da sociedade, o alicerce para um país melhor e mais justo.
Paro e analiso essa questão e verifico que os Sandros, Marias, Josés e todos estes que foram colocados à margem da sociedade e foram excluídos do sistema não se encontra só no episódio do ônibus 174 ocorrido no Rio de Janeiro, estão mais perto do que imaginamos, encontra-se ao nosso lado. Nós tapamos nossos olhos e nossos ouvidos para não percebermos os desesperos e seus prantos.
Precisamos ter audácia, coragem para que possamos realmente assumir os nossos erros. A nossa sociedade perversa e cruel tem banido essas pessoas do sistema, negando-as oportunidades para que elas sobrevivam com dignidade, criando uma política de extermínio silencioso.
Só, que não nos damos conta desse poder que tem essas pessoas que estão à margem da sociedade. Porque o ser humano é mutável se adapta às condições onde vive. E ali ele gera o poder e esse poder não é o nosso estado de “direito democrático constituído e positivado”, não são as nossas leis. É empregada a lei do mais forte, a lei da sobrevivência. Academicamente poderíamos empregar as “Leis Draconianas” onde foram consideradas uma das mais duras de toda a história dos povos antigos. Podemos observar o que produzimos, rejeitamos e não queremos enxergar o fruto das nossas atitudes diárias e da ausência do estado. Até a nossa própria polícia é colocada a margem da sociedade.
Produzimos um lixo para eliminarmos outro lixo, só enquanto na sociedade em que cada cidadão se considera do bem, olham essas pessoas como ladrões, homicidas, usuários de tóxicos, já eles têm outra visão: os do abandonado e do ignorado, então partem para o uso das drogas, para fugir da sua cruel realidade que praticamente é imutável por causa da omissão das instituições estatais e, dos ditos cidadãos de bem detentores do poder legal, da ressocialização. Com a falta deste apoio; seu único destino é a morte precoce produzida pela sua própria sociedade algoz, ao qual lhe baniu do seu único sistema social tirando-lhe qualquer chance de recuperação.
Se nos colocarmos no lugar destes excluídos podemos observar que eles roubam para sobreviver. Eles são predadores naturais, ou melhor, dizendo, seres humanos jogados em uma floresta de pedra. Não aquela floresta natural que estamos acostumados a ver. Mas, uma floresta de pedra, pois, a dureza, a frieza como são tratados, repudiados e odiados por simplesmente existir; no mesmo ambiente de uma sociedade preconceituosa, omissa e violenta.
Direitos Humanos... Nesse caso pode haver! Quando algum político aparece para fazer uso deste termo para se promover perante a mídia elitista, inescrupulosa. No nosso universo não tem espaço para os Sandros, Flávia, Marias... Quantas vidas já se perderam nesse sistema caótico e falido.
Mas que sociedade? A sociedade a qual eles deveriam estar incluídos com seus direitos garantidos como qualquer cidadão não os reconhece. Portanto, eles partem para formar o seu próprio agrupamento para sobreviver. E assim como Hobbes fala “que é uma guerra de todos contra todos” isso realmente provoca um individualismo onde sobrevive o mais forte dentro desse regime capitalista excludente. Onde a minoria detém a maior parte da fortuna enquanto a maioria “cata migalhas”.
E eu pergunto, até onde Sandro foi responsável por estar naquela situação? E ser o protagonista do seqüestro do ônibus 174, o ônibus da morte que ceifou duas vidas. Culpam-se os policiais, mas a politicagem interviu dentro de uma ação a qual eles não estava preparados, impedindo assim os verdadeiros profissionais de realizarem o seu trabalho.
Até onde podemos chegar... Não temos respostas porque não queremos ver a terrível realidade e tantas outras que estão acontecendo a todo o momento ao nosso lado. Pois, o problema encontra-se na desestruturação da família e na omissão da sociedade e no estado ineficiente e ausente. Mas qual o interesse político? Não existe porque aqueles excluídos não fazem parte dos seus interesses. Não há mobilidade para nenhum indivíduo nesta sociedade que não é vista pelos poderes constituídos responsáveis pela sua recuperação. Pois, não haverá vantagem para os políticos profissionais e descompromissados com os Direitos Fundamentais da pessoa humana
A nossa sociedade esta acostumada a levar vantagem em tudo, mesmo podendo assim, produzir outros Sandros e vários episódios trágicos eliminando vidas e sonhos.
Porque a partir do momento que encararmos o problema de frente e olharmos em seus olhos acharemos a resposta para impedir esses tamanhos malefícios. Evitando a matança de Sandros, Mareias e outros que tiveram pouca ou nenhuma oportunidade, devemos acabar com a hipocrisia de estarmos matando nossos semelhantes, em vez de criarmos políticas públicas que possibilitasse uma reestruturação da família e do estado como todo. Mas há os que defendem a comodidade, a praticidade e o gerenciamento de custo menor quer uma munição para o atual sistema vigente, do que investir qualquer outra forma de reeducação ou inclusão social destas pessoas excluídas fazendo valer a ética dos seus direitos fundamentais de viver com o mínimo de dignidade garantido pela constituição federal.
ELABORADO EM 2006
1 comentários:
Bastante realista este seu texto..
Na verdade, nossos governantes somente se preocupam com as consequencias e não com as causas da violência.
Continue divulgando esses textos, que tem como escopo atingir todos aqueles que com seu quinhão possa mudar o nosso país...
Abraços,
Jorge Alexandre
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